Será porventura esta uma expressão do paradoxo da gnose: se o propósito de conhecer galvaniza o ser humano, o mesmo põe também a nu a ignorância quanto à sua origem. Do reconhecimento da sua ignorância nasce o sapiens.
A consciencialização da sua ignorância constitui, portanto, o momento fundador do projeto humano, ao iluminar a distância entre o homo faber e o homo sapiens.
Nenhum conhecimento adquirido, nenhum progresso cultural, nem mesmo o conjunto de todo o conhecimento humano, é capaz de mitigar
a consciência dolorosa da queda na matéria e no tempo que aflige o ser humano, desde a génese do gnosticismo.
A oposição radical ao mundo que caracterizou o gnosticismo antigo será um traço permanente da gnose, ou apenas o aspeto circunstancial de uma definição já superada?
Reduz-se a gnose ao gnosticismo histórico, dito herético, ou ao gnosticismo tradicional, dito esotérico?
As gnoses modernas de Sampaio Bruno e de Raymond Abellio oferecem outros modelos de lucidez especulativa. Por linhas mais ou menos convergentes,
pensadores como Hans Jonas ou Kurt Rudolph, visam retirar a gnose do campo estritamente teológico.
O Colóquio “A Gnose Entre Tradição e Modernidade” visa atualizar o conhecimento crítico sobre a gnose na presente era de cruzamentos (e afastamentos) civilizacionais,
a fim de apurar a sua pertinência num tempo aparentemente dessacralizado, marcado pela incerteza e pelo temor.
Com base nestas considerações, convidamo-lo/a a juntar-se a nós a fim de enriquecer a reflexão e o debate em torno dos seguintes eixos:
- Gnose e Tradição, Gnose e Modernidade.
- Gnose e Figuras do Pensamento Português.
- Pensamento Português, uma “Gnose do Ocidente”?
- Fernando Pessoa e Autognose.
- Ciência e espírito: para uma nova Gnose?
- Contributos para uma Gnose cristã?
José Guilherme Abreu
Henrique Manuel Pereira
Porto, fevereiro de 2021